Cogumelos azuis: conheça 5 tipos além dos Psilocybe cubensis

Os cogumelos azuis abrangem um pequeno grupo de fungos que apresenta coloração azul em seus frutos, tanto as espécies com pigmentação permanente como as espécies que azulam por reações físico-químicas, após colhidas ou danificadas, como no caso dos cogumelos mágicos que contém psilocibina.

Embora, no Brasil, seja mais comum associar-se o termo popular “cogumelo azul” aos Psilocybes cubensis, existem muitas outras variedades fantásticas e únicas para explorarmos. Neste artigo, vamos conhecer alguns tipos de cogumelos azuis menos conhecidos e mais surpreendentes do que os cubensis. 

Psilocybe azurescens: beleza e potência entre os cogumelos azuis

O Psilocybe azurescens é um cogumelo azul notável por sua beleza e força. Com seu alto teor de psilocibina e psilocina, ele oferece uma experiência psicodélica intensa e única.

Encontramos principalmente esta variedade de cogumelo azul na região do Pacífico Norte, especialmente no Oregon e na região de Washington. Ele cresce em áreas costeiras e em solos ricos em materiais orgânicos, como restos de madeira.

A aura majestosa que os Psilocybe azurescens exibem é fascinante. Eles possuem a aparência típica de cogumelos mágicos em forma de cone, com um chapéu marrom-avermelhado que pode crescer até 10 cm de diâmetro e um estipe robusto de cor bege-amarelada que escurece com a idade.

Seu aroma é forte e distinto, com notas de terra e madeira. Os efeitos produzidos pelo consumo de Psilocybe azurescens podem durar até 8 horas e incluem alterações visuais, mudanças perceptivas, pensamento criativo, euforia e, em alguns casos, ansiedade ou paranoia.

Quando colhidos, danificados ou envelhecidos, os Psilocybe azurescens exibem azulamento intenso, característico dos cogumelos psilocibinos. Nesta espécie, a concentração mais intensa de coloração ocorre devido à alta concentração de psilocibina e outros alcaloides, que pode chegar a ser 3 ou 4 vezes maior que de outras espécies que contêm psilocibina.

Azulamento dos cogumelos com psilocibina

Durante muitos anos especulou-se sobre o azulamento dos Psilocybe cubensis e outras espécies de cogumelos com psilocibina, porém, nunca ninguém havia tentado provar a reação química por trás da coloração.

Até que um dia, Dirk Hoffmeister, do Leibniz Institute for Natural Product Research and Infection Biology, na Alemanha, e sua equipe trabalhando com o Psilocybe cubensis há vários anos, cultivando os cogumelos em seu laboratório e vendo a misteriosa reação de azulamento inúmeras vezes, decidiram estudar o fenômeno.

“O pigmento, como se vê, não é apenas um único composto, mas uma mistura complexa de produtos de oxidação de psilocibina ligados. A maioria desses compostos são oligômeros quinoides de psilocil, não muito diferentes do índigo, um pigmento azul profundo usado para tingir jeans. Igualmente, os compostos azuis e o índigo compartilham semelhanças estruturais no núcleo de indol e, em ambos, a base da cor é um quinoide”, diz o autor principal do estudo, Claudius Lenz.

Todos os seis pigmentos de cogumelos identificados pela equipe são produtos de uma reação em cascata que começa com a psilocibina. Uma enzima fosfatase retira seu grupo fosfato, convertendo-o em psilocina.

O que exatamente os pigmentos azuis fazem, no entanto, permanece um mistério. A hipótese – e ainda não há nenhuma evidência disso – é que eles podem ter uma função protetora, como um repelente sob demanda contra predadores.

Lactarius indigo: o cogumelo azul que exala mistério

O Lactarius indigo é um cogumelo naturalmente misterioso. Habita naturalmente o leste da América do Norte, leste da Ásia, América Central e no sul da França. Conhecido como indigo milkcap, é um cogumelo comestível e usado em algumas culturas indígenas para fins medicinais e alimentícios. Apesar de sua popularidade, ainda é um cogumelo difícil de encontrar, o que aumenta seu mistério e fascínio.

O Lactarius indigo é facilmente reconhecido no meio da natureza devido à sua cor azul intensa e, primordialmente, pelo porte médio, com uma aparência suculenta e carnuda e um sabor adocicado e picante. Como sugere seu nome, ele exibe um azul intenso durante todo o estágio de frutificação, ficando ainda mais forte a coloração quando cortado ou machucado.

Embora os pesquisadores ainda não compreendam totalmente a composição química do Lactarius indigo, acredita-se que este cogumelo contenha propriedades medicinais. Estudos preliminares indicam que ele pode ajudar a combater infecções bacterianas, além disso é um forte antioxidante, tornando o cogumelo atraente para a indústria farmacêutica e cosméticos, as quais investem pesado em pesquisas.

A busca pelo Lactarius indigo pode ser desafiadora. Geralmente, ele cresce em solos ricos em nutrientes e pode ser encontrado ao longo da costa do Pacífico ou em florestas de pinheiros. Em síntese, para os exploradores de cogumelos, encontrar um Lactarius indigo é uma experiência emocionante e única.

Panaeolus cyanescens: um pequeno cogumelo azul

O Panaeolus cyanescens é uma variedade de cogumelo azul que cresce em substratos ricos em nutrientes, como estrume de vaca, estrume de cavalo e em áreas de pastos. Também conhecidos como “pans”, são pequenos em tamanho mas sua concentração de psilocibina e outros alcaloides é até o dobro maior que as concentrações observadas em Psilocybe cubensis.

Os Panaeolus cyanescens tem efeitos psicodélicos semelhantes aos do Psilocybe cubensis. Desse modo, os efeitos podem incluir euforia, mudanças na percepção visual e aumento da sensibilidade tátil.

Encontrá-los pode ser um pouco difícil, já que eles são mais raros do que Psilocybe cubensis. Eles geralmente crescem em climas quentes e muito úmidos, como no Brasil e outras regiões tropicais.

Uma observação importante sobre o Panaeolus cyanescens é que, em muitas ocasiões, as pessoas o confundem com outra espécie, o Panaeolus antillarum, pois são muito parecidos esteticamente e nascem praticamente nas mesmas regiões. Por isso a importância de nunca se coletar cogumelos na natureza sem ter 100% certeza da identificação, preferencialmente feita por um especialista em biologia fúngica.

Entoloma hochstetteri: um cogumelo azul raro

O Entoloma hochstetteri, conhecido como “pinkgill azul”, é uma espécie rara de cogumelo azul encontrado exclusivamente na Nova Zelândia, especialmente em áreas de mata nativa. Além de sua beleza estonteante, o fruto do Entoloma hochstetteri apresenta uma coloração azul intensa devida ao altíssimo índice de pigmentos de azuleno em sua composição química.

Embora muitos membros do gênero Entoloma sejam venenosos, a toxicidade específica desta espécie é desconhecida. No entanto, os pesquisadores estão investigando o Entoloma hochstetteri para verificar se o agrupamento de genes responsável pela coloração azul pode ser utilizado na fabricação de corante alimentar azul natural.

Devido à sua raridade, o Entoloma hochstetteri não está facilmente disponível para venda, sendo necessário procurar por colecionadores ou cultivá-lo pessoalmente. Além disso, é essencial ter um conhecimento adequado sobre cogumelos e suas diferentes espécies antes de se aventurar na busca por eles.

Características do Entoloma hochstetteri

Stropharia caerulea: cogumelo azul com propriedades medicinais

Além dos famosos cogumelos alucinógenos que sofrem azulamento, alguns cogumelos azuis também possuem propriedades medicinais. É o caso do Stropharia caerulea.

Estes cogumelos azuis são conhecidos por apresentarem possíveis propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, adicionalmente, essas características podem auxiliar no combate a doenças crônicas, como o câncer, enquanto proporcionam alívio aos sintomas de condições de saúde, como artrite e doenças autoimunes.

O Stropharia caerulea também pode ser utilizada no tratamento de problemas digestivos, como gastrite e úlceras gástricas.

Ao caçar cogumelos azuis Stropharia caerulea, é essencial explorar áreas de floresta úmida, principalmente em troncos em decomposição e restos de madeira. É importante ressaltar que a identificação correta é crucial para garantir a segurança no consumo. Além disso, o conhecimento aprofundado das características da espécie e seu habitat contribui para uma busca mais eficiente e segura.

Além da necessidade de respeitar o meio ambiente e evitar a coleta excessiva, uma prática simples e consciente consiste em sacudir os frutos enquanto se caminha pelo local. Essa ação auxilia na dispersão dos esporos, promovendo o ciclo natural que dará origem às próximas gerações de cogumelos. É fundamental adotar essas medidas para garantir a sustentabilidade e preservação dos ecossistemas.